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Enterro ecológico: a cremação é mesmo uma alternativa sustentável?

Confira 7 coisas que você pode virar depois da morte. Você já pensou em ser enterrado em um caixão de cogumelos ou ser cremado com água?

Lâmpada com uma planta dentro enterrada em um pedaço de terra
Imagem: canva.com

 

Em 1998, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório informando que os cemitérios causam poluição, por conta da liberação de microrganismos patogênicos e substâncias orgânicas e inorgânicas no solo e nos lençóis freáticos.

Amostras de água subterrânea, coletadas nos arredores dos cemitérios com sepultamentos recentes, comprovaram a contaminação da água por íons cloreto e nitrato, vírus, bactérias e necrochorume.

Por esse motivo, no dia 3 de abril em 2003, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) decretou regras para a construção de cemitérios, visando proteger os lençóis freáticos da infiltração do necrochorume. Além disso, também foi determinado um prazo para que os antigos cemitérios se adequassem às novas regras.

Porém, mesmo com a implementação de leis específicas, a maior parte dos municípios e órgãos ambientais ficaram paralisados quanto à resolução 335/2003, ainda que o período estabelecido para adaptação tenha se esgotado em 2010, como definiu a resolução 402/2008.

Por exemplo, Belo Horizonte é a terceira maior capital do país e apresenta mais de 2 milhões de habitantes, entretanto, até hoje não ocorreu nenhuma regulamentação ou cumprimento de ato nesse sentido. Os cemitérios são ignorados como problema, todavia, fechar os olhos para essa questão não impede que doenças sem espalhem, como por exemplo, a febre tifoide e a hepatite infecciosa.

Atualmente, não encontramos muitas informações sobre a capacidade de poluição dos cemitérios nem sobre a biodegradabilidade dos componentes utilizados, tanto no enterro como nos produtos aplicados nos defuntos. A morte precisa ser encarada com mais naturalidade e essa educação é essencial para que a sociedade busque alternativas mais ecológicas para a hora do adeus.

É importante que a população se mobilize para cobrar ações do poder público na garantia de dignidade de morte. Ou seja, a execução de estratégias que amenizem os impactos ambientais e sanitários dos cemitérios.

Para saber quais são as opções para um sepultamento mais ecológico, continue a leitura! 

Cemitério transmite doenças?

O necrochorume, um líquido viscoso de cor castanho-acinzentada, é formado durante a decomposição dos cadáveres. Para cada quilo de massa corporal, é gerado em torno de 0,6 litros de necrochorume.
Esse líquido é constituído de: 

  •  Sais minerais
  • Água
  • Substâncias orgânicas degradáveis
  • Grande quantidade de vírus e bactérias

E ele também pode apresentar:

  • Formaldeído e metanol (usados no embalsamento do corpo)
  • Metais pesados (alças dos caixões)
  • Resíduos hospitalares (medicamentos que a pessoa tomou antes de morrer)

Fora isso, é importante destacar que, na atualidade, inúmeras pessoas morrem de câncer. O câncer é a segunda principal causa de morte no mundo. Boa parte desses indivíduos é submetida a processos de radioterapia. Logo, quando essas pessoas falecem, seus corpos passam a produzir elementos radioativos no solo.

Caso a umidade do solo seja elevada, surge a saponificação, que é um processo que aumenta o tempo de decomposição do cadáver. Nos cemitérios brasileiros, em razão do clima quente e úmido, a saponificação é frequente.

Segundo o geólogo Leziro Marques da Silva, um dos maiores especialistas do país, cerca de 75% dos cemitérios do país têm problemas com vazamentos de necrochorume. E esse líquido, em contato com o solo e os lençóis freáticos, se torna um transmissor de doenças.

A cremação é amiga do meio ambiente? 

A cremação é apontada como um procedimento eficiente no que diz respeito às questões de impacto ambiental, pois não gera resíduos como o necrochorume. No entanto, um estudo realizado por um cemitério localizado na Australia (Adelaide’s Centennial Park) mostrou que apenas um processo de cremação é responsável pela produção de mais de 100 quilos de dióxido de carbono.

Esse relatório demonstra que um enterro produz 39 quilos de dióxido de carbono, mas, levando em consideração os efeitos em longo prazo, enterrar uma pessoa tem 10% mais efeito prejudicial no meio ambiente do que a cremação. Tanto a cremação quanto o enterro são processos que emitem gases do efeito estufa. E a concentração desses gases na atmosfera impede a dissipação do calor para o espaço, elevando as temperaturas do planeta.

Recentemente, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos comunicou que quase 2 toneladas de mercúrio foram emitidas devido às cremações humanas realizadas em 2014. Isto é, a cremação não é uma alternativa tão ecológica, pois ela libera uma quantia excessiva de carbono na atmosfera.  

Cremação com água

Se você sempre planejou ser cremado, não se desespere! Há um caminho que não emite gases nocivos do efeito estufa e é uma possibilidade mais ecológica à cremação. A Aquamação é um método à base de água. O nome científico desse sepultamento é “hidrólise alcalina”. Ela é uma combinação de fluxo de água suave, temperatura e alcalinidade. Esses três itens são utilizados para agilizar a degradação de materiais orgânicos quando um corpo é colocado para descansar no solo.

Funciona assim: 
O corpo é posicionado em uma máquina de hidrólise alcalina, formada por uma câmara hermética cheia de uma solução à base de água e produtos químicos alcalinos. Logo em seguida, essa câmara é aquecida. Isso faz com que o corpo seja derretido e sobre apenas os ossos. Quando os ossos estão secos, eles são moídos para se transformarem em cinzas.

E sabe qual é a melhor parte? Esse processo utiliza 90% menos energia do que a cremação e, como dito anteriormente, não emite gases nocivos do efeito estufa. 

Segundo a Cremation Association of North America (CANA), uma organização internacional sem fins lucrativos, a hidrólise alcalina, normalmente, é conhecida com o seguinte nome: cremação sem chama.

Cemitério ecológico em São Paulo

Que tal virar uma árvore quando morrer? Em São Paulo, o Cemitério e Crematório Horto da Paz oferece essa possibilidade. Esse cemitério construiu um bosque, chamado “Paz e Vida”. Nesse local, os familiares podem “plantar” as cinzas dos entes queridos.

O procedimento não é complexo. As cinzas são guardadas em uma urna ecológica, feita de fibras de coco, que possui também sementes de alguma espécie de árvore nativa da Mata Atlântica. Com o transcorrer dos anos, essa urna se biodegrada e as cinzas viram adubo para a árvore.  O plantio pode ser acompanhado por todos os amigos e familiares, porém, as árvores não recebem qualquer tipo de identificação.  Consequentemente, os familiares guardam na memória o local que escolheram para florescer a planta.

Caixão de Cogumelo

Um inventor holandês, chamado Bob Hendrikx, desenvolveu um caixão feito de micélio (aparelho vegetativo dos cogumelos). Esse caixão de cogumelo diminui o tempo de decomposição e, neste momento, é a melhor escolha de serviço funerário para o meio ambiente.

O micélio é a parte vegetativa do fungo, assim dizendo, é a “raiz”, a parte responsável pela absorção de nutrientes. Geralmente, um caixão de madeira leva quase 20 anos para se decompor. Entretanto, o caixão de cogumelos leva apenas seis semanas. Os fungos são capazes de realizarem a compostagem de diversos materiais orgânicos e inorgânicos. Sua competência já foi comprovada até em “comer” radiação. Por isso, podemos dizer que os cogumelos têm o poder de diminuir inúmeros impactos ambientais.

Caixão de Papelão 

Na Europa, um milhão de árvores são derrubadas para a produção de caixões convencionais. Habitualmente, a madeira mais utilizada é a do mogno e essa árvore leva mais de 50 anos para crescer. Para se construir um único caixão, é preciso uma árvore inteira. Porém, é possível fabricar mais de 100 caixões de papelão com essa mesma árvore. Pensando nessa questão, o argentino Mauricio Kalinov investiu no negócio de caixões descartáveis.

Embora existam outros produtos similares no mercado global, os caixões do Mauricio são os únicos elaborados inteiramente de papelão. E essas mercadorias são resistentes à água e à umidade e suportam mais de 200 quilos.

Ao ser enterrado, esse caixão se biodegrada e não contamina as águas subterrâneas dos cemitérios. Caso seja cremado, o caixão não emite fumaças tóxicas. Além disso, essas peças não possuem ceras, metais ou vernizes e funcionam como adubo ao serem enterrados.

E as vantagens ainda não acabaram! O caixão de papelão necessita da metade do gás e do tempo para obter as mesmas cinzas que os tradicionais e eles podem ser transportados desmontados.

Virar adubo para o jardim de casa após a morte 

Há pouco, o estado norte-americano de Washington aprovou a transformação do corpo humano em adubo. A lei é um tanto  quanto controversa porque permiti a transformação de corpos humanos em adubo para jardins. Em muitos países, como no Brasil, é proibido jogar os restos humanos fora de cemitérios ou de locais de enterro autorizados, até mesmo por questões sanitárias.

Porém, a empresa Recompose, com sede em Seattle, pontua que sua técnica transforma um corpo em adubo em apenas 30 dias. Eles relatam que não fazem nada além de simplesmente acelerarem o processo natural de decomposição.

O método da Recompose foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Washington. O mecanismo é o seguinte: eles adicionam uma mistura de madeira e outros ingredientes biodegradáveis ao corpo. Feito isso, colocam o corpo em uma composteira, esse local é mantido a 55ºC.

As bactérias termofílicas, que crescem em ambientes quentes, apressam a decomposição. E, como a temperatura alta mata as bactérias responsáveis pela disseminação de doenças, esse adubo humano pode ser utilizado em jardins domésticos com segurança.

Cemitério Vertical 

Você já pensou em uma alternativa para diminuir espaços em cemitérios tradicionais? Consegue imaginar prédios como local do descanso eterno? Pois essa é a proposta do cemitério vertical.

Nesse ambiente, os corpos ficam em andares, armazenados um acima do outro, em compartimentos semelhantes a gavetas. Os compartimentos são chamados de lóculos e todos contam com um tubo para a coleta do necrochorume — a substância liberada pelo corpo após o falecimento —, que recebe o tratamento mais adequado. Então, como a decomposição é feita dentro das gavetas com a circulação de oxigênio, nenhuma substância chega ao meio ambiente.

A decomposição é realizada por meio de uma técnica chamada decomposição anaeróbica. No espaço -em que o corpo fica- existe um sistema de ventilação que troca o ar com frequência, o que permite que a decomposição aconteça com oxigênio, o que não é possível nos cemitérios horizontais.

Assim, o necrochorume evapora com maior facilidade e todos os gases são tratados para que sejam liberados ao ambiente sem nenhum impacto ou risco às pessoas. No sepultamento tradicional, a decomposição demora em média dois anos, enquanto no método mais ecológico esse processo ocorre em um período entre seis e oito meses.

Virar uma árvore quando morrer 

Se você quer ainda mais modernidade, temos uma última sugestão para você! O projeto italiano chamado “Cápsula Mundi”. Os designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel desenvolveram um reservatório no formato oval. Essa urna biodegradável é produzida a partir de bioplástico de amido.

Após a morte, o corpo é depositado em uma posição fetal nesse reservatório. Em seguida, esse “ovo gigante” é enterrado. Essa cápsula funciona como uma semente. Desta forma, é plantada uma árvore logo acima e o cadáver passa a ser uma fonte de nutrientes que ajudam  no crescimento da planta. O objetivo desses designers italianos  é retirar as lápides e transformar os cemitérios em locais repletos de “árvores sagradas”.

É importante destacar que esse projeto ainda não saiu do papel, pois as leis italianas proíbem que pessoas sejam enterradas dessa maneira. Porém, os artistas pretendem lutar para que essas leis sejam alteradas.

Sobre o Autor

Amar Assist

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