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O que fazer com os pertences de quem faleceu? Confira as dicas!

Separamos 9 dicas para você se preparar para o momento de lidar com os pertences pessoais do ente querido que se foi e com as pendências como imposto de renda, rescisão, aposentadoria, FGTS, conta bancária, documentos pessoais, redes sociais e muito mais.

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Imagem: canva.com

O momento de lidar com os objetos pessoais e as pendências do familiar que faleceu é difícil para a maioria das pessoas e, se não for feito de forma adequada, pode prejudicar o processo de luto, que por si só já é um período de desorganização da vida.

A psicóloga Raíssa Ortega dos Santos (CRP 06/000772), que atende pessoas enlutadas na região de Campinas/SP e por meio de atendimentos online alerta que: “cada etapa do momento de se desfazer dos pertences do falecido deve ser respeitada e feita com calma e sem pressa, pois o objetivo deve ser o de dar outra função para aquele espaço e guardar algumas lembranças, e não se livrar de sentimentos dolorosos”.

Além disso, é importante que se atente para quais sentimentos estão envolvidos no processo de redestinar os objetos de alguém que morreu. Pessoas enlutadas que passam pela fase da raiva podem querer descartar tudo aleatoriamente na tentativa de extravasar um sentimento muito intenso, por exemplo.

A seguir listamos 9 dicas que podem guiar pessoas enlutadas na tarefa de organizar os pertences do familiar que faleceu. Confira:

1. Não tenha pressa

O processo de luto não deve ser apressado e varia de pessoa para pessoa com relação à intensidade e duração. Os enlutados que vivenciam um luto muito doloroso apresentam mais dificuldade para lidar com objetos diretamente relacionados com o falecido. É provável que amigos e outros familiares se prontifiquem para descartar os pertences de quem morreu na tentativa de amenizar o sofrimento do enlutado, pois acreditam que a dor será menor se tiver menos contato com coisas que lembrem a perda. Essa não é a melhor opção.

É importante que o enlutado tenha, no tempo dele, o momento de decidir o que fazer com os bens pessoais do falecido. Faz parte do luto os sentimentos intensos com relação à perda e é preciso tomar cuidado para que outras pessoas próximas não invalidem essas emoções. 

2. Abra a porta

É comum que muitas pessoas tenham dificuldade em abrir a porta do quarto da pessoa que faleceu ou evite ir até a casa onde essa pessoa morava. Faz parte do processo de luto ter um tempo para entender a perda e, então, começar a agir com relação a ela. Se você não se sente preparado para encarar a missão de entrar naquele ambiente e lidar com todos os sentimentos e lembranças, comece aos poucos. Abra a porta do quarto, mesmo que você não entre. Separe os álbuns de fotos, mesmo que agora você não consiga vê-las. Entre na casa dele(a), caminhe pelos cômodos, ainda que você não se sinta confortável de guardar a louça que ficou em cima da pia.

3. Comece pelo mais urgente ou burocrático

Após as obrigações funerárias, as pendências que ficaram do falecido precisam ser resolvidas de acordo com o grau de urgência de cada uma. Saiba como evitar a parte burocrática. Notificar a empresa em que o falecido trabalhava e iniciar o processo de rescisão e saque do FGTS, procurar um advogado para iniciar o processo de inventário ou testamento, lidar com os procedimentos bancários, inteirar-se do processo para declaração de imposto de renda do falecido (importante ressaltar que a vida fiscal não se encerra com a morte) e contatar outros profissionais que possam esclarecer o que diz respeito a cada área de conhecimento são passos necessários após o falecimento de alguém.

O advogado Caio dos Santos Orilio Silva (OAB-SP 375.950), da cidade de Campinas-SP, esclarece que é no momento da morte que nasce o direito a sucessão dos bens e direitos deixados pelo falecido. Caso haja um testamento, é este o documento que declaram as últimas vontades do falecido, podendo determinar ali, para quem ficarão os bens disponíveis, reconhecer filhos e até mesmo a forma como dispor pagamento das dívidas com os bens deixados, lembrando que as dívidas serão pagas apenas com o patrimônio deixado pelo falecido.

Quando não há testamento, se faz necessária a realização do inventário para determinar a quem pertencerá os bens deixados. O inventário, por determinação da lei, deve ser iniciado em até 2 meses após a data de falecimento. E atualmente, ele pode ser feito via judicial ou extrajudicial, esta última através de cartório, que se torna um procedimento mais simples e rápido. Destaca ainda que, sempre será necessário a presença de um advogado para a realização do inventário, que visa garantir e preservar o legítimo direito dos herdeiros, podendo haver um único advogado para representar todos os herdeiros no processo.

Importante ressaltar que é no inventário que será apurado quem são os legítimos herdeiros, os bens e dívidas deixados pelo falecido, e o que pertencerá a cada um. Enquanto não se conclui o processo de inventário, é obrigatório a nomeação de um inventariante, que é a pessoa responsável a administrar e apresentar ao juiz todas as informações necessárias para que haja a correta divisão dos bens aos herdeiros. Concluído o inventário, após o pagamento das dívidas, o saldo restante é divido entre os herdeiros, ficando cada qual com sua cota parte de direito.

Assim, o começo do processo de reorganização envolve apoderar-se dos conhecimentos necessários e desenvolver comportamentos que antes não tinham sido solicitados na vida. Lidar com os aspectos burocráticos da morte é algo que só se aprende quando perdemos alguém.
Com relação ao que fazer com as redes sociais do falecido, pode ser que entrar em contato com as mensagens dos amigos deixadas nas páginas traga muitos sentimentos intensos e, portanto, o acesso a elas deve ser feito como e quando a pessoa se sentir mais confortável.

4. Jogue fora o que não for necessário

Comece pelo mais fácil. À primeira vista aparecerão muitas coisas que podem ir para o lixo ou dadas a outras pessoas, como os papeis de bala e as caixas de remédio. A psicóloga Raíssa explica que: “a separação das coisas que têm valor das coisas que não têm, ajuda a diminuir a quantidade de pertences a serem analisados e prepara o enlutado para lidar com os sentimentos mais intensos que os objetos de valor sentimental podem trazer à tona”.

Se ficar na dúvida quanto à importância de algum material, separe para poder avaliar melhor depois ou com outras pessoas interessadas.

5. Devolva pertences emprestados ou que podem ser valorizados por algum outro familiar ou amigo

O casaco que era seu e ficou com ele(a), o jogo de tabuleiro do primo ou o livro que o amigo emprestou. Peça às pessoas próximas que avisem caso tenham emprestado algum objeto para a pessoa que faleceu e separe-os para a devolução assim que encontrá-los. Também vale separar aquele jogo de porcelana que a sua tia pode querer ou aquele móvel que a sua irmã queria tanto. Alguns objetos podem não ser valorizados por você, mas podem ser apreciados por outras pessoas próximas a quem morreu.

Em casos em que o falecido tenha deixado um testamento ou na necessidade da realização de um inventário, tenha cuidado com os objetos de mais valor e com aqueles que podem ser disputados por mais pessoas.

6. Separe os pertences que podem ser doados

Roupas e calçados em bom estado, produtos de higiene ainda na validade, alimentos não consumidos, livros e conjuntos de louça sem valor sentimental são alguns objetos que podem ser doados. Evite cair na armadilha de guardar esses pertences porque estão associados às lembranças. Escolha aqueles objetos cujo valor sentimental é maior e deixe para o final da organização.

A decisão de doar alguns bens pode levar mais tempo e exigir uma avaliação mais criteriosa, portanto não deve ser uma etapa apressada e feita sem julgamento. É importante entrar em contato com as pessoas e instituições (como amigos, abrigos, escolas, projetos sociais, bibliotecas e pessoas em situação de rua) que podem receber as doações, mas entregue os pertences quando sentir que está pronto para se desfazer deles.

7. Separe papeis de documentos importantes

Alguns documentos precisam ser guardados por muitos anos ainda depois do falecimento da pessoa e outros podem ser descartados imediatamente. Se você não consegue distinguir quais manter e quais jogar fora, peça ajuda de alguém que entenda disso. Pode ser algum colega de trabalho do falecido que se disponibilize para ajudar a organizar os papeis de trabalho, um advogado para ajudar a guardar de forma adequada documentos importantes ou mesmo um serviço de contabilidade para ajudar quanto às questões fiscais.

Alguns casos merecem atenção especial, como os de falecimento por doença rara, cujos documentos podem ser aproveitados pelos médicos que atenderam o doente para fins de pesquisa, e os de falecimento por acidente, em que possíveis ações jurídicas podem ser envolvidas, por exemplo.

8. Mexa por último em objetos de valor sentimental

Recomenda-se que os objetos de valor sentimental sejam deixados por último porque condensam muitas lembranças e sentimentos a respeito da perda que podem ser muitos intensos para o enlutado. São esses bens que merecem um espaço na reorganização que o luto implica para a vida de quem passa por ele. Guardar os objetos mais valiosos ao invés de vários outros menos importantes é algo que geralmente ocorre em uma fase mais avançada do luto, como na aceitação ou readaptação (fase final).

9. Encontre um novo espaço para as lembranças físicas do falecido

​​​​​​​Uma caixa geralmente é o que se recomenda para guardar as lembranças físicas de alguém que faleceu, mas adaptações podem ser feitas. Seja uma gaveta, um nicho no armário ou mesmo um único objeto, o importante é que o de mais valor sentimental seja guardado de forma com que o enlutado sinta estar respeitando aquelas lembranças.

O processo de organização e descarte dos pertences de alguém que faleceu envolve muitos aspectos complexos e dolorosos. Algumas pessoas têm mais dificuldade do que outras e, por isso, vão precisar de mais ou menos ajuda. É importante buscar a ajuda de outros familiares e amigos ao longo desse processo, mas a ajuda profissional em algumas situações se faz necessária.

Em casos em que o enlutado passa muito tempo com dificuldade para organizar não só o espaço que era de uso pessoal do falecido, mas também outros cômodos e em casos em que a dificuldade em organizar os pertences do falecido traz prejuízos emocionais, sociais e financeiros graves, a recomendação pela terapia do luto é necessária.

A compreensão de que a terapia do luto pode ajudar o enlutado a passar por esse processo de forma menos sofrida e mais consciente é importante porque fornece informações necessárias para a elaboração do luto e permite a vazão de sentimentos que precisam ser validados.

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