Por mais que a morte seja a única certeza que nós temos na vida, enfrentá-la nem sempre é fácil. Para superar esse momento, é muito importante que você entenda quais são as cinco fases do luto e como elas podem impactar você. Vale ressaltar que nem todas as pessoas podem vivenciar todas as etapas, algumas podem passar por apenas 2 ou 3 delas.
Para lidar com o luto é preciso tempo. E foi pensando nesse processo, que é uma dificuldade para muitas pessoas, que criamos este conteúdo. Aqui você compreenderá melhor esse momento e a sua importância, inclusive, a partir de uma perspectiva psicológica. Acompanhe.
Sintomas do luto
Desde que haja vida, a morte, o desfecho, é um fato. No entanto, o ser humano ainda não consegue lidar de forma natural com esse evento, afinal, nós temos sentimentos, e a falta de uma pessoa querida pode impactar muito as nossas relações e a forma como percebemos o nosso ambiente. Veja algumas características do luto:
- crise de ansiedade;
- crise de estresse;
- depressão;
- melancolia;
- crises de raiva;
- insônia;
- choro sem motivo aparente;
- desânimo para realizar a rotina do dia a dia.
Especialistas em terapia do luto afirmam que existem 5 fases do luto que devem ser respeitadas e, para entender como funciona esse período a que somos submetidos, é importante conhecer a fundo cada fase e o que pode ser feito para amenizar esse período.
Para a psicóloga do Hospital do Coração de São Paulo, Juliana Batista, o processo do luto tem um início, um meio e um fim. Ela alerta que “tristeza, culpa, ansiedade e raiva são os sintomas mais comuns que passamos quando ocorre a quebra de um vínculo afetivo, sendo mais forte quando se perde alguém que se ama”.
Juliana Batista justifica que existem diversas fases do luto e esse sentimento pode se manifestar de várias maneiras. Conheça-as abaixo.
As 5 fases do luto
1. Negação
A negação é a primeira fase a que uma pessoa se submete quando ocorre um óbito na família ou quando ela passa por um momento traumático de perda. Nessa etapa, é comum que muitas pessoas não queiram acreditar que de fato o óbito tenha ocorrido, com isso, muitos acabam se isolando e preferem não tocar no assunto.
Dessa forma, cada pessoa age de uma maneira diferente. Muitos encontram um jeito de não encararem a realidade, chegando ao ponto de a pessoa não querer acreditar que a perda é real. Algumas frases comuns nesse momento são:
- “isso logo vai passar”;
- “estou em um pesadelo, mas logo tudo volta ao normal”;
- “tudo sempre se resolve, isso também vai se resolver”.
A negação se torna uma alternativa que a pessoa encontra para ignorar a situação. Essa fase do luto é muito comum em casos de morte, desemprego ou traição, por exemplo.
2. Raiva
A segunda fase do luto é a raiva. Nesse momento, a pessoa dá conta de que não adianta mais negar ou deixar a sensação de perda passar despercebida. É um período em que ela já se convenceu que, de fato, aquela perda ocorreu, com isso, no lugar da negação, entra o sentimento de raiva, principalmente pelo momento que está enfrentando. É natural que nessa fase a pessoa procure algo, alguém ou a si mesmo para atribuir a culpa do ocorrido, chegando a pensamentos como os abaixo:
- “se eu tivesse feito isso, talvez ele não tivesse ido embora”;
- “por que eu não dei mais valor enquanto fulano estava vivo?”
- “com tanta gente ruim nesse mundo, isso foi acontecer logo comigo?”
Frases desse tipo costumam ser frequentes quando a pessoa está nessa fase do luto. É um período quase que inaceitável, em que a pessoa enlutada se sente injustiçada. Por mais que se tenha amigos ou pessoas próximas que dão apoio e incentivo, vivenciar o luto é uma coisa muito pessoal.
Por isso, é importante que as pessoas mais próximas tenham paciência com quem está vivenciando uma fase de luto. Umas superam mais rápido, outras demoram um pouco mais. Enquanto para muitos o luto permanece por semanas, para outros pode durar até anos.
3. Negociação
Após vivenciar os estágios de raiva e negação, a pessoa enlutada tende e entrar na fase da negociação, período em que ela faz um acordo:
- “vou ser uma pessoa melhor, vou cumprimentar as pessoas, vou parar de beber”;
- “Deus, me dê saúde até que meu filho cresça” (muito comum em pessoas que descobrem que estão doentes);
- “vou mudar meu comportamento e tudo vai se resolver.”
Nessa fase, a pessoa começa a negociar o que vai fazer para que o luto passe. Grande parte das pessoas se apegam a alguma religião, à fé e fazem promessas e votos a Deus.
Quase sempre, essa fase de negociação é feita em segredo, entre a pessoa enlutada e Deus, com o objetivo de que as coisas voltem ao normal.
4. Depressão
Nesse período, sentimentos como tristeza, vazio, melancolia e isolamento são comuns. A pessoa percebe que, por mais que tenha tentado negociar a perda, ela permanece ali.
Pensamentos como os abaixo costumam ser comuns nesse período de perda, além de a pessoa se isolar e se afastar dos outros cada vez mais:
- “eu me odeio”;
- “eu nunca mais vou ser feliz”;
- “esta dor nunca vai passar”.
É um momento que deve ser respeitado. É importante que nessa fase as pessoas mais próximas observem o comportamento da pessoa enlutada e que deem a ela o máximo de atenção possível.
5. Aceitação
Essa é considerada a última fase do luto, período em que a pessoa não nega mais os fatos, não sente raiva pelo acontecido ou por não poder ter evitado determinada situação.
A depressão dá lugar à compreensão e ao entendimento de que existem coisas na vida que não podem ser evitadas e finalmente chega o momento em que ela aceita e segue com a sua vida.
Estes pensamentos são as afirmativas de quem superou a perda de um ente querido:
- “eu vou superar, isso não é o fim”;
- “vou aprender com isso e me tonar uma pessoa melhor”;
- “vai dar tudo certo”.
Nesse momento, a pessoa consegue recomeçar a vida. Por mais que a ausência do ente querido falecido ou o término de um relacionamento ou até a perda de um emprego seja um fato, ela consegue contornar a situação.
A psicóloga Juliana acrescenta que uma das piores fases do luto é o primeiro ano após a perda, pois será o primeiro ano em que a pessoa enlutada passará os primeiros aniversários e as primeiras datas comemorativas sem a presença da outra. Essa pode ser a fase mais difícil.
“Isso não quer dizer que o luto dure um ano, pois varia muito de pessoa para pessoa e grau de proximidade entre elas”, relata a psicóloga. Ela conclui afirmando que ”o luto bem-sucedido e finalizado é quando a pessoa consegue superar a perda e seguir em frente”.
Alternativas para superar o luto
Existem algumas alternativas que podem auxiliar as pessoas a enfrentarem melhor as fases do luto. Abaixo, listamos algumas que podem trazer bons resultados. Veja!
Não evite o diálogo
Podemos iniciar esse tópico com uma analogia: você já notou como cientistas e pesquisadores, quando estão diante de algo novo, sempre passam as ideias para o papel? Buscam conselhos e diálogos construtivos com companheiros de trabalho. Eles fazem isso porque nenhuma ideia é independente. Há um processo de construção e elaboração por meio da escrita e da fala. É assim que eles descobrem algo novo, transformam as suas pesquisas e produzem resultados.
O diálogo é uma fonte rica de compreensão, descobertas e redescobertas, por isso ele é terapêutico. Quando a dor da perda é intensa, é comum queremos recalcá-la, não falar sobre, evitar falar o nome da pessoa. No entanto, como um dos processos de compreensão, é muito importante expressar o que você sente. Isso não porque você necessite expor os seus sentimentos a alguém, mas, sim, porque tanto a fala como a escrita exigem um processo de elaboração e será essa elaboração a responsável pela compreensão do luto.
Não é à toa que atualmente a o diálogo e a escrita são processos terapêuticos. A questão não é expor, mas, sim, compreender-se, organizar, elaborar para ressignificar os sentimentos. É uma pesquisa em si mesmo, é o autoconhecimento.
Volte à rotina aos poucos
A ansiedade é um problema do século XXI. A Organização Mundial da Saúde afirma que os problemas de ansiedade afetam 9,3% dos brasileiros, isto é, mais que 18 milhões de pessoas. A pessoa que passa pelo luto tem maior possibilidade de lidar com esse problema e, muitas vezes, como solução, procura no trabalho a fuga necessária para os seus sentimentos.
Quando a pessoa extrapola o ritmo da rotina e busca um maior número de compromissos para evitar pensar no assunto, possivelmente, a sua ansiedade aumentará e os resultados dessa atitude não serão positivos nem para si mesmo nem para as pessoas que estão ao redor, sejam colegas de trabalho ou familiares.
Sendo assim, retorne aos poucos à sua rotina. Seja gentil consigo mesmo. Compreenda que o sofrimento é inerente à perda e que cada um tem o seu tempo e a sua forma de lidar com isso. Não exija tanto de si mesmo e não se julgue. Sua rotina voltará ao normal, mas é necessário deixar que o tempo opere.
Aceite que essa dor é inevitável
Determinados sentimentos atualmente são vistos como ruins. Por isso, muitas pessoas não querem sentir: medo, saudade, tristeza, dor. Na verdade, é preciso abrir espaço para sentir.
A dor é inevitável e ela traz seu significado: a pessoa que se foi é especial e, por isso, deixou um vazio insubstituível. Aos poucos, a dor, após o processo de compreensão, será compreendida e, assim, os bons sentimentos serão superiores a ela, como a gratidão, o companheirismo.
Sendo assim, não olhe para si com julgamentos e querendo esconder a dor. Ela pede espaço nesse momento. Não a sufoque. Dessa forma, você passará por esse processo com mais naturalidade e evitando carregar pesos que não são seus.
Não apresse o seu luto
Cada um tem um tempo diferente. A forma de lidar com o luto é muito particular. Não procure em outras pessoas ou personagens fórmulas prontas para lidar com esse momento. Existe algo muito particular na forma em que cada um lidará com seus sentimentos. Por isso, as fases do luto não são lineares.
Portanto, não apresse o seu luto para demonstrar que você já o superou e que as coisas já podem voltar ao normal. Tudo tem seu tempo e você lidará e responderá pelas atividades que você dá conta.
É importante sempre observar-se, notar como andam as suas perspectivas, se aos poucos está havendo uma melhora, se você consegue, mesmo que devagar, construir um olhar mais positivo para o seu futuro. Caso você sinta dificuldade, não hesite em procurar um profissional.
Procure por terapia do luto
A terapia do luto é um procedimento que envolve o acompanhamento por psicólogos e psiquiatras e tem como objetivo auxiliar as pessoas que possuem maior dificuldade em lidar com esse momento. Por meio de acompanhamento frequente, a pessoa enlutada terá orientação o apoio necessário para passar por esses períodos delicados.
Com a terapia do luto é possível ficar mais tranquilo, pois o enlutado será ouvido e orientado pela pessoa certa, especializada, e que poderá ajudá-lo com compreensão e sem julgamentos.
Enquanto a vida da pessoa estiver ligada ao passado, viver o presente será algo muito complicado e difícil e o futuro perde as suas perspectivas. Com a terapia, pode-se encontrar uma conversa que respeitará nossos sentimentos, nosso momento. Não haverá a exigência do “seguir em frente”. Assim, o enlutado aprenderá que tudo tem o seu tempo.
Dessa forma, será possível, por meio do diálogo e de outros exercícios, encontrar em nós mesmos uma nova condição para nos adaptarmos, da melhor forma possível, à perda e ao novo significado que daremos à vida.
Escreva uma carta
Alguns momentos podem ser turbulentos e alguns sentimentos confusos ou algumas situações que você julgava superadas podem causar-lhe incômodo. Quando isso acontecer, escreva sobre os seus sentimentos, peça desculpas para si mesmo, demonstre gentileza.
Essa carta pode ser endereçada a si mesmo ou ao falecido. O importante é que você externalize seus incômodos, elabore, pense e, ao final do processo, provavelmente estará mais calmo.
Gabriele Ribas, psicóloga da linha positiva e responsável pela criação do “Caderno do Eu”, afirma que a escrita é um processo terapêutico e, por isso, transformador. A psicóloga elucida: “dores se transformaram em poesias, desafios se transformaram em contos, angústias se transformaram em palavras, e as palavras transformarão o sofrimento em autoconhecimento, aprendizado e superação”.
Busque redes de apoio
Outra alternativa são as instituições não governamentais como o Casulo — Associação Brasileira de Apoio ao Luto. Fundada em 2011 com sede em São Paulo, a instituição tem por objetivo acompanhar pessoas enlutadas e ajudá-las a passar por cada uma dessas fases.
Conhecer as fases do luto é fundamental para se conhecer e se reconhecer em suas etapas. Quando nossas ações são conscientes, é possível compreende o nosso espaço, nossas ações e reações. É preciso se educar para lidar com as fases do luto e, dessa forma, lidar de maneira mais natural com a morte, com a sua própria dor e, assim, poder superá-las de maneira saudável.
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