Você já escutou o termo “positividade tóxica”? Esse conceito diz respeito a tendência de nos mostrarmos perfeitos e felizes nas redes sociais. Atualmente, meio que se tornou um defeito (talvez até um crime) ser triste ou ansioso. Hoje, sorrir é quase uma obrigação. É fato que tentar ver o lado positivo de tudo é uma atitude saudável, até porque isso faz com que aprendamos com os nossos erros e com as dificuldades. Entretanto, tentar extrair a lição de cada problema não faz com que a dor evapore. Decepção dói. Frustação machuca. Perder uma pessoa querida dilacera o nosso coração. Enfrentar a pandemia gera ansiedade. Não podemos fugir dessas emoções. Conseguimos eliminar a revolta, mas não a dor.
É importante aceitar todas as emoções, incluindo as negativas. Como diz a Zélia Ducan em uma certa canção: “É tão bom não ser divina, me cobrir de humanidade me fascina e me aproxima do céu. Perfeição demais me agita os instintos. Quem se diz muito perfeito, na certa encontrou um jeito insosso pra não ser de carne e osso.”
É claro que todo mundo pensa de uma forma, mas eu concordo com a Zélia, não sentir os sentimentos negativos é como viver anestesiado, ter uma vida sem sabor, sem sal. Não é à toa que o filósofo Mario Sergio Cortella costuma ensinar o seguinte: “Não seja morno. Ser morno é não ser quente nem frio, é ser mais ou menos competente, mais ou menos envolvido, como um café morno, um refrigerante morno ou um casamento morno. Ser morno é economizar afeto. Afeto e conhecimento são duas coisas que, se você guardar, você perde”.
Obviamente, não estou aqui dizendo que jamais devemos buscar ajuda de um profissional. Pelo contrário, os psicólogos e os psiquiatras nos ajudam a lidarmos com os nossos sentimentos da melhor forma possível. Afinal, às vezes, as nossas emoções transbordam e nós não sabemos lidar com tanta intensidade. Embora eu acredite que mesmo a pessoa “mais resolvida” deveria fazer terapia. Anualmente, nós realizamos um check-up (avaliação médica de rotina) para verificarmos se está tudo bem com a nossa saúde, então, por que também não averiguamos como está a nossa saúde emocional?
Deixando as polêmicas de lado, como nós podemos saber se a nossa ansiedade passou do nível que é considerado saudável? Para encontrarmos essa resposta, consultamos a psicóloga Raíssa Ortega dos Santos (CRP 08/24863). Continue a leitura e descubra em qual nível a sua ansiedade está!
O que é ansiedade?
Na atualiadade, conforme os dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 18,6 milhões de brasileiros apresentam transtorno de ansiedade. O Ministério da Saúde define ansiedade como agonia, aflição, perturbação provocada pela incerteza. A ansiedade faz com que o indivíduo entre em ação, mas, em excesso, faz o oposto: impede reações.
A psicóloga Raíssa explica que a ansiedade faz parte da vida. “Ansiedade é aquilo que a gente sente antes de uma entrevista de emprego, ao abrir o resultado do vestibular, antes daquela viagem que planejamos com carinho, aquela inquietação da espera do resultado do teste de gravidez e aquele ‘frio na barriga’ do primeiro beijo”.
Ou seja, a ansiedade não é algo negativo que devemos eliminar a qualquer custo da nova vida. Imaginemos a seguinte situação: um pai em uma maternidade aguardando o nascimento do seu primeiro filho. As duas pessoas que ele mais ama estão em uma mesa cirúrgica: a sua esposa e o seu filho. Estranho seria se ele não estivesse ansioso, afinal, ele está vivenciando um dos momentos mais importantes da sua vida. Provavelmente, seja possível viver sem emoção, mas será que vale a pena?
Raíssa pontua que, em intensidade leve, a ansiedade é o que nos movimenta. “É o que nos faz estudar antes da prova, é o que nos faz planejar a viagem dos sonhos. Quando essa inquietação, expectativa e preocupação ultrapassam esse ponto ‘saudável’, a ansiedade se torna constante mesmo quando não tem motivo aparente e os sintomas começam a prejudicar a nossa vida diária, então, precisamos de ajuda para lidar com isso”.
Qual a diferença entre ansiedade e síndrome do pânico?
De acordo com Raíssa Ortega dos Santos: “Um ataque de pânico é definido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM 5) como ‘um surto abrupto de medo ou de desconforto intenso que alcança um pico em minutos’. É como uma ansiedade muito mais intensa e pontual, que passa depois de alguns minutos. Pode acontecer ‘do nada’, sem que consigamos relacionar a alguma coisa que tenha acontecido”.
Além da sensação de descontrole, os sintomas do ataque de pânico incluem:
● Palpitações
● Sensação de que o coração está muito acelerado
● Suor excessivo
● Tremores
● Sensação de falta de ar ou de que está sendo sufocado
● Dificuldade para respirar
● Dor no peito
● Náusea
● Tontura
● Vertigem
● Desmaio
● Calafrios ou ondas de calor
● Sensação de formigamento
● Medo intenso de morrer
● Medo intenso de enlouquecer
● Sensação de estar fora do corpo ou uma dificuldade aguda de reconhecer o ambiente em que você está.
É importante destacar que, quando esses ataques acontecem de forma recorrente, inesperada, por um período maior do que um mês e a pessoa sente um medo constante de ter outro ataque, então, podemos considerar o quadro como Transtorno do Pânico, que requer tratamento psicológico e psiquiátrico.
Quais são os sintomas da ansiedade?
Atire a primeira pedra quem nunca disse: “eu estou muito ansiosa (o)”. No dia a dia, escutamos a palavra “ansiedade” com muita frequência. Basta que uma pessoa fique um pouco mais inquieta para que alguém diga: “Nossa, mas você é muito ansiosa, hein?!”. Porém, o que de fato é ser uma pessoa ansiosa? Quais são os sintomas?
“A palavra-chave para a ansiedade é preocupação excessiva”, esclarece Raíssa. Ela continua dizendo que, junto disso, outros sintomas estão presentes num quadro de ansiedade:
● Sensação de que algo ruim vai acontecer
● Inquietação
● Sensação de estar com os nervos à flor da pele
● Cansaço
● Dificuldade de concentração
● Irritabilidade
● Tensão muscular
● Alterações do sono (sensação de que dormiu, mas não descansou. Sono agitado, dificuldade em dormir ou de manter o sono)
● Sensação de estar sempre em alerta
● Pensamento acelerado
● Dificuldade de conseguir controlar a preocupação
● Apetite desregulado
● Dificuldade para relaxar
O luto pode desenvolver ansiedade?
Como já dissemos em textos anteriores, nós não somos programados para lidar com fins e evitamos ao máximo falar sobre eles. Sendo assim, a morte e a dor da perda ainda são grandes tabus. Os efeitos psicológicos do luto vão desde não conseguir ficar em casa – se você dividia o lar com o falecido – até casos de estresse pós-traumático causados por uma morte violenta. Logo, quadros de ansiedade são comuns.
“Pessoas enlutadas podem apresentar ansiedade e isso é bem comum, inclusive. Especialmente durante a pandemia.O luto é um momento traumático na nossa vida. É desorganizante, as nossas emoções afloram e temos a sensação de descontrole delas. E a ansiedade anda lado a lado com essa falta de controle. Dependendo de como a perda ocorreu e do nosso papel diante dela, podemos experimentar uma sensação de impotência, de que não fizemos ou não poderíamos ter feito (apesar dos nossos esforços) nada para impedir a morte de um ente querido”, relata a psicóloga Raíssa
E ela reforça que mortes violentas e/ou repentinas costumam deixar enlutados com sintomas de ansiedade. “Ficamos de mãos atadas e isso é terrível. A vida de quem amamos escorregou por entre os nossos dedos e o choque é imenso, desesperador e angustiante. Muitos que passam por isso acabam desenvolvendo sintomas mais frequentes e intensos de ansiedade principalmente porque, além de outras coisas, não sabem o que fazer para evitar que algo assim aconteça novamente e isso é amedrontador demais. Perder o controle da própria vida de uma maneira tão traumatizante requer acompanhamento psicológico em muitos casos e uma boa rede de apoio do enlutado”.
Como saber se preciso de ajuda profissional?
Se a ansiedade é uma emoção inerente a todo ser humano e não devemos a rotular como algo prejudicial, como podemos saber se precisamos ou não de ajuda profissional?
“É hora de buscar ajuda profissional quando a ansiedade ocupar muito tempo da sua vida e prejudicar o seu desempenho nas tarefas diárias e os sintomas forem frequentes demais e intensos demais. Por exemplo, passa tanto tempo se preocupando com as coisas que não consegue prestar atenção e viver no momento presente. Muitas pessoas só procuram ajuda quando sentem que viver com tanta ansiedade se tornou insuportável, e é importante que não se espere chegar nesse ponto para procurar ajuda. Qualquer ansiedade que produza um sofrimento significativo para a pessoa merece atenção, e não é preciso ter todos os sintomas para isso”, diz Raíssa
Vale relembrar que, independentemente do grau de intensidade do luto ou da ansiedade, buscar ajuda profissional é sempre uma atitude benéfica. Visto que, não precisamos lidar com tudo sem a ajuda de alguém. Ser forte não é conseguir fazer tudo sozinho nem esconder as emoções. Ser forte é entender as nossas vulnerabilidades e saber pedir ajuda.
Como tratar a ansiedade que surge após a morte de um ente querido?
Raíssa explica que o luto não é uma doença, mas sim o agravamento dos sintomas. Ou seja, caso os sintomas do luto sejam vivenciados de forma muito intensa, isso pode avançar para uns transtorno.
E quem já apresenta um transtorno pode ter um agravamento do quadro com o luto. Consequentemente, a persistência desses sintomas pode levar a quadros de ansiedade, depressão e até mesmo obsessões e compulsões.
“Todo luto que leva a um sofrimento intenso ao ponto de impedir o retorno às atividades diárias e que traz uma sensação de que não conseguimos passar por aquilo sozinhos, precisa de uma avaliação psicológica”, informa a psicóloga.
Raíssa destaca que não são todas as pessoas enlutadas que vão precisar de ajuda profissional e sim aqueles que não conseguem voltar ao trabalho, apresentam ataques de pânico, sentem dificuldade em retornar à vida cotidiana e/ou sentem que, apesar de todos os esforços, o sofrimento ainda é muito intenso. As pessoas que vivenciam esses quadros devem procurar um profissional para conversar sobre isso.
Vale destacar que não são apenas os psicólogos e os psiquiatras que podem ajudar nessas situações. Outros profissionais podem complementar o tratamento, tais como, nutricionistas, médicos de outras especialidades e educadores físicos.
E se um familiar se recusar a ir ao psicólogo, o que eu faço?
O luto é um momento difícil tanto para a pessoa enlutada quanto para os parentes que estão perto e desejam oferecer apoio. Diversas vezes, tentamos amparar alguém, mas essa pessoa recusa a nossa ajuda.
Levando em consideração essa circunstância, a psicóloga Raíssa orienta: “Converse. Exponha as suas preocupações e o porquê de você achar que seria importante que essa pessoa procurasse ajuda profissional. Ouça o que ela tem a dizer, evite se estressar com ela nesse momento e fique atento se na sua fala há algum tom de julgamento ou de imposição. Coloque-se à disposição para acompanhá-la numa primeira sessão. Mostre-se disponível para ouvi-la se ela precisar. Deixe com ela o contato de um profissional”.
As tentativas de obrigar alguém a procurar ajuda psicológica com frequência são desgastantes, frustrantes e carregadas de tensão familiar. Deixar o caminho aberto para que essa pessoa procure ajuda é uma boa opção nesses casos. E você também pode procurar ajuda para aprender a lidar com essa situação.
Teste de ansiedade
Raíssa relata que a ansiedade exacerbada mostra que alguma coisa não vai bem. “Quem se sente muito ansioso ou tem uma sensação de que alguma coisa está errada, precisa buscar ajuda. Pois esses são os sinais de alerta para procurar ajuda profissional”.
Como nos ensinou a psicóloga Raíssa, a ansiedade pode ser dividida em dois grupos:
- Ansiedade saudável: aquela que sentimos antes do nascimento de um filho ou de uma entrevista de emprego. É natural ficarmos ansiosos por conta de uma prova ou de uma viagem. Esse tipo de ansiedade faz parte do nosso dia a dia e não há a necessidade de buscar ajuda profissional.
- Ansiedade muito intensa e sem explicação: a ansiedade se torna constante mesmo quando não tem motivo aparente e os sintomas começam a prejudicar a nossa vida diária. Ficamos achando que algo ruim vai acontecer a qualquer momento e nos sentimos cansados. Há uma preocupação excessiva. Se estivermos passando por essas situações, precisamos de ajuda profissional para lidar com isso.
Para saber o nível de ansiedade que você está, respire fundo por três vezes e pense: por que eu fico ansiosa(o)? Qual a razão da minha ansiedade? Se a sua ansiedade não tiver uma causa aparente, pois você fica imaginando tudo de ruim que pode acontecer com você em algum instante, busque ajuda! Você não precisa encarar essa dor sozinha(o)!
Muitas vezes, aprender a lidar com a ansiedade é um processo individual que não é possível apenas estudando sobre esse tema. Um profissional tem as ferramentas necessárias para nos ajudar a compreender melhor o quadro e a manejar com mais destreza os sintomas.
“Sempre que os sintomas foram intensos demais, prejudiciais demais no seu desempenho diário e/ou trouxerem um sofrimento significativo, a ajuda torna-se necessária”, complementa a psicóloga
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Existe uma causa para a ansiedade?
Raíssa explica que os psicólogos não apontam causas para a ansiedade. “Pode existir algum fator desencadeante, como aquela briga com os pais, a perda de alguém querido, um evento traumático etc. Mas não falamos em causas para a ansiedade”.
Ela diz que um quadro ansioso é sempre produto de um conjunto de fatores combinados: genética, história de vida, exposição anterior à fatores estressores, contexto atual, habilidades de tolerância ao mal-estar, aspectos de personalidade e outros fatores. Tudo isso faz parte da “receita” de qualquer sintoma em saúde mental. Logo, o tratamento para um transtorno de ansiedade leva em conta todas essas variáveis.
O que fazer no momento de uma crise de ansiedade?
Ainda que os sintomas durem por pouco tempo, quem já teve uma crise de ansiedade, sabe que esses momentos não são nada agradáveis. O coração acelera, as mãos ficam frias e suadas e temos a sensação de que não estamos respirando. Perguntamos para a psicóloga Raíssa o que podemos fazer para amenizar essas sensações e ela listou as dicas abaixo:
- Tente respirar fundo algumas vezes
- Afrouxe as roupas caso se sinta sufocado
- Preste atenção no ambiente ao seu redor. Descreva mentalmente esse lugar. Exemplo: estou sentado na minha cama e olhando para a parede que tem cor azul com sete quadros pendurados…
- Beba água (de preferência gelada)
- Tome um banho frio
- Ouça uma música relaxante
- Cante e dance uma música que você goste
- Faça uma atividade física intensa por alguns minutos, como subir e descer escadas, fazer polichinelos e caminhar apressadamente pela quadra
- Mastigue algo com sabor intenso, como uma bala de hortelã ou gengibre, um pedaço de canela em pau ou um cravo (aqueles de colocar em docinhos)
- Converse com um amigo sobre qualquer coisa
- Faça uma massagem suave nos braços ou pernas com um hidratante ou óleo bem cheiroso
- Brinque com um animal de estimação
De acordo com Raíssa, uma crise de ansiedade dura em média 20 minutos (podendo durar mais ou menos do que isso). “Nesse tempo, coloque em prática as dicas listadas acima ou peça ajuda de alguém por perto para te distrair. Nem sempre a crise acontece em um ambiente em que todas essas dicas são possíveis, mas é importante tentar o máximo delas até que você sinta a melhora dos sintomas agudos. Vale também uma dica para alguém que quer ajudar quem está em crise de ansiedade: não se desespere! Respire fundo e fale calmamente com a pessoa”.
No geral, os sintomas de ansiedade tendem a melhorar com a prática regular de meditação e exercícios físicos, especialmente os aeróbicos. Alimentação equilibrada, redução de substâncias estimulantes (como a cafeína) e o investimento em práticas de autocuidado também ajudam.
Alguns exemplos de autocuidado são:
- Tomar um banho relaxante
- Brincar com os animais de estimação
- Conversar com um amigo
- Dançar
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