Você já parou para pensar na origem do velório? Será que o homem das cavernas enterrava os seus familiares? Quem começou a vender terrenos em cemitérios? Nós ainda não sabemos quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha. Mas a História já nos conta a origem dos rituais fúnebres.
De acordo com as escavações arqueológicas, o primeiro cemitério surgiu em 60000 a.C. Ou seja, o ato de enterrar os mortos é tão antigo quanto o ser humano. O homem primitivo sepultava as pessoas que faleciam porque os corpos em putrefação atraíam os animais predadores, o que colocava a vida das demais pessoas em risco.
No entanto, os autores Jean e Amédée Bouyssonie contam que, em 1908, dois padres descobriram os restos de um neandertal de 50.000 anos na cova de La Chapelle-aux-Saints, na França. Os Bouyssonie falam que, a posição fetal do corpo e as ferramentas que o acompanhavam na vala apontavam um enterro intencional. Assim sendo, o homem neandertal realizava cerimônias simbólicas e acreditava em uma vida depois da morte.
Alguns cientistas desdenham dessa hipótese, outros dizem que, no mínimo, a família desse neandertal o enterrou propositadamente e com muito cuidado. Há o consenso de que, reservar uma área para o sepultamento, é um hábito que surgiu com os hebreus. Esse povo construía catacumba em paredes de galerias subterrâneas. Já egípcios mumificavam os faraós e os sepultavam em pirâmides, e as pessoas simples eram colocadas em uma cova coberta e cobertas por um manto de fibra natural.
Os velórios surgiram na Idade Média. Nessa época, os utensílios domésticos eram fabricados com estanho. Logo, as pessoas ingeriam bebidas alcoólicas utilizando esses materiais. No entanto, a mistura do estanho (copo) com o álcool (bebida) fazia com que as pessoas desmaiassem, elas eram acometidas por uma condição similar à narcolepsia (Distúrbio crônico do sono que causa ataques súbitos de adormecimento).
Por esse motivo, para evitar que as pessoas fossem enterradas vivas, quando uma pessoa desmaiava, o corpo era recolhido e estendido sobre uma mesa. Como não existia eletricidade nessa época, os familiares precisavam segurar velas enquanto vigiavam o suposto falecido, afinal, era necessário ter certeza de que aquela pessoa estava morta e não dormindo. Logo, o nome “velório” é derivado das palavras “vela” e “velar”.
Os hebreus também aguardavam 24 horas antes de sepultarem os seus mortos, pois eles acreditavam que o espírito levava esse tempo para se desligar do corpo. Quer conhecer todas as histórias que envolvem os ritos de despedida? Continue lendo esse texto! Boa leitura!
As pessoas eram sepultadas nas igrejas?
Você sabia que há diferença entre sepultar e enterrar? No sepultamento, o corpo é colocado em uma sepultura, uma espécie de abrigo. Se você já assistiu a algum filme bíblico, deve se recordar do local onde o Lázaro estava sepultado. No enterro, o cadáver é acomodado em uma cova (uma escavação feita na terra).
Na Europa, até o século XIV, os sepultamentos eram realizados dentro das igrejas, no subsolo. Ou em áreas adjacentes: ao lado ou atrás da igreja. Ser sepultado no subsolo da igreja era um sinal de prestígio, pois se acreditava que o último lugar de descanso deveria ser próximo dos santos. No entanto, os sepultamentos seguiam uma hierarquia. Quem realizava doações com valores elevados, era sepultado perto do altar.
Entretanto, em 1348, a pandemia da peste negra matou 1/3 da população europeia. Consequentemente, as igrejas não conseguiram atender toda essa demanda de sepultamento. Com isso, surgiram os enterros. No Brasil, os sepultamentos em igrejas duraram até a década de 1920. Nessa fase, apenas os escravos, indigentes, acatólicos, judeus e protestantes eram enterrados.
Vale destacar que a origem da cremação data de 1000 a.C. Os gregos e os romanos consideravam que o sepultamento deveria ser o fim dos criminosos. Sendo assim, as pessoas dignas deveriam ser cremadas. Porém, até 1964, a Igreja Católica não consentia que seus fiéis fossem cremados.
Como surgiram os cemitérios?
A palavra “cemitério” vem do latim coemeterium, que descende de cinisterium (cinos: doce e renor: mansão), como do grego kouméterion, de kaimâo, que quer dizer: eu durmo. Se olharmos o dicionário, encontramos o seguinte conceito: lugar onde se enterram os mortos.
A princípio, cemitério era o local onde se dormia. Posteriormente, essa palavra ganhou o sentido de necrópole, campo de descanso eterno etc.
Em diversos momentos, a Bíblia intitula o cemitério como o território onde dormem os mortos até serem acordados pelas trombetas do Juízo Final, quando se levantarão incorruptos. Em outras partes, a morte é apontada como sinônimo de sono. Por exemplo, Jesus, ao falar sobre a morte de Lázaro, diz: “Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo” (Jo 11, 11). Mas nem sempre a morte é apresentada desta maneira na Bíblia. No Antigo Testamento, o falecimento é encarado como uma desgraça entre os homens.
Inicialmente, os corpos eram sepultados em catacumbas subterrâneas e nas áreas internas e adjacentes das igrejas. Após o aumento do número de óbitos, os finados passaram a ser enterrados em locais próximos às igrejas. Mas esse novo hábito desencadeou um transtorno: contaminação do solo. O alto número de pessoas enterradas gerou diversas epidemias. Morar perto desses locais passou a ser algo letal.
Afinal, no século XVII, as cidades estavam repletas de cadáveres. Os cemitérios já tinham alterado a paisagem urbana. No entanto, vale relembrar que, em Roma, esse mesmo problema já tinha aparecido. Os romanos, ao impedirem os enterros dentro da cidade, não se preocuparam com a organização dos cemitérios. Consequentemente, os cidadãos passaram a enterrar os seus familiares ao longo das estradas sem qualquer tipo de cuidado.
Com o tempo, a cidade cresceu e, o que antes era uma estrada distante, passou a ser parte da área urbana. Ou seja, os defuntos que tinham sido expulsos da cidade, estavam outra vez dentro da cidade. Por esse motivo, nasceu a preocupação com a salubridade pública. A sociedade percebeu o quanto era necessário cuidar das sepulturas e da manutenção dos cemitérios. Não era mais aceitável a amontoação de mortos nas igrejas ou na beira de estrada.
No século XVIII, a Igreja compreendeu que era importante separar o cemitério da igreja, visto que era necessário ter um local apropriado para o sepultamento para que outras epidemias não aparecessem. Com isso, os cemitérios foram transferidos para locais afastados.
Em 1780, foi alicerçado os princípios de higiene pública, sendo assim, cemitérios foram remodelados. Na Inglaterra, por exemplo, surgiu uma lei que obrigava que os enterros fossem realizados ao ar livre e longe da área urbana. Na França, foi criado o Decreto de 12 de junho de 1804, que dita as normas que vigoram até hoje.
Esse decreto estabeleceu que era proibido realizar sepultamentos nas igrejas. Além disso, também pontuava a distância mínima entre uma sepultura e outra, impedia a reutilização de valas e pressionava os Estados a tomarem medidas extintivas do mau odor que os cemitérios emanavam.
Por que as pessoas enviam coroas de flores?
Antigamente, os velórios eram feitos nas casas das famílias. Os parentes e amigos próximos levavam flores como um ato de carinho. Em determinado momento, os velórios passaram a ser realizados em espaços específicos para esse tipo de ritual. Com isso, muitas pessoas não conseguiam se deslocar até o local do velório e enviavam flores e cartas para a casa da família. Mas, com medo de passarem a imagem de que não se importavam com o falecido, esses indivíduos passaram a enviar flores e faixas com um recado em letras garrafais para o espaço onde o corpo era velado. Assim, todos os presentes saberiam quem enviou a lembrança.
É dito também que, na Grécia e na Roma Antiga, os cidadãos usavam guirlandas de flores para homenagear os grandes guerreiros. Quando esses guerreiros faleciam, os seus caixões eram enfeitados com belíssimas flores.
Como começou a venda de jazigos?
Dentro dos cemitérios, privados ou públicos, existem construções feitas para sepultar nossos entes queridos. Ou seja, são os locais onde ficam os caixões, sendo assim, os jazigos, mais conhecidos como túmulos.
Como dito anteriormente, as pessoas eram sepultadas nas igrejas. Logo, os primeiros jazigos foram conquistados por meio de doações. A Igreja concedia um jazigo perpétuo às pessoas que realizam doações em favor dos pobres e dos hospitais.
Por que o luto é representado pela cor preta?
Anteriormente, as mulheres viúvas utilizavam apenas roupas pretas pelo resto de suas vidas, como fez Rainha Vitória do Reino Unido. Mas como tudo isso começou?
No período gótico da idade Média, a morte era vista como algo doloroso e obscuro por conta das doenças e torturas da Inquisição. A Idade Média ficou conhecida como “mil anos de escuridão”. Como essa cor representava a escuridão, o luto passou a ser indicado por meio da cor preta.
Têm narrativas que dizem que os romanos usavam togas pretas quando alguma pessoa muito querida falecia. Outros relatos falam que essa regra surgiu com os antigos egípcios. Eles usavam o preto porque essa cor lembrava a ausência da pessoa, o vazio e a falta de luz.
Porém, nem todas as culturas adotam o preto como a cor do luto. Na Índia, China e Japão, por exemplo, o branco é utilizado para representar o luto. Visto que essa tonalidade remete ao silêncio e a paz que a “vida após a morte” exibe para quem faleceu. No Egito, o amarelo é a cor do luto. Na África do Sul e entre povos ciganos, o vermelho.
Agora que você já sabe a história dos rituais fúnebres, compartilhe este texto em suas redes sociais!