A doação de órgãos é muito importante para melhorar a qualidade de vida de inúmeras pessoas, chegando ao ponto de salvá-las, e para que mais procedimentos sejam possíveis, é essencial se informar sobre como ele funciona. Com um pouco mais de conhecimento sobre o tema, o receio inicial é logo substituído pela consciência da nobreza desse ato.
A informação sobre a doação de órgãos consegue afastar mitos envolvendo a prática, que é prevista em lei e muito segura para todos os envolvidos. Portanto, quanto mais a população se informa sobre o tema, maiores são as taxas de doação, fazendo com que abordar o tema seja crucial para evolução nos números de vidas salvas por transplantes.
Quer entender melhor o procedimento de doação de órgãos? Confira nosso artigo e tire suas dúvidas!
Como funciona o procedimento de doação de órgãos?
O processo de doação de órgãos no Brasil é realizado quando ocorre a confirmação da quando ocorre a confirmação da morte cerebral do paciente. A equipe médica se encarrega de comunicar aos familiares do paciente o seu quadro clínico, fornecendo orientações e retirando todas as dúvidas da família sobre o procedimento.
Além da morte encefálica, em alguns casos de parada cardíaca, também será possível fazer a doação de tecidos do falecido. Da mesma forma, será exigida a autorização dos familiares, independentemente de qual foi o tipo de morte do doador.
Por mais que o candidato à doação de órgãos tenha deixado clara a sua vontade em relação ao seu último desejo — a doação —, ele precisa de confirmação. Apenas os familiares possuem o direito a autorizar a retirada de orgãos para doação após a constatação da morte encefálica.
No Brasil, mais de 40 mil pessoas estão na fila de espera por um transplante e o maior obstáculo para doação tem sido a recusa por parte das famílias, que chega a cerca de 40%. Essa recusa se dá pela falta de informação dos familiares e pela falta de confiança nos órgãos públicos.
Como é constatada a morte cerebral?
Quando acontece uma morte cerebral, em alguns casos, a família se recusa a autorizar a doação por acreditar que ocorreu um erro médico, mantendo, assim, a esperança de possível melhoria no estado clínico do paciente e saída dos limiares para morte encefálica. No entanto, isso é impossível. Para facilitar a compreensão, vamos explicar melhor o que é morte cerebral e como ela funciona.
A morte encefálica ou morte cerebral é declarada quando ocorre uma ausência de todas as funções neurológicas. Isso costuma ocorrer com um grave ferimento no cérebro ou uma severa agressão. Com isso, o sangue bombeado para o cérebro não consegue chegar até ele, causando, assim, a sua morte.
A dúvida por parte da família é até compreensível, tendo em vista que o familiar possui batimentos cardíacos, a pele ainda está corada e aquecida, é possível ver o pulmão se mexendo durante a respiração. Essa seria uma aparência de alguém vivo, no imaginário popular.
Entretanto, a medicina explica que isso só é possível devido ao ventilador (aparelho elétrico por meio do qual é enviado oxigênio para o paciente). Com isso, o coração continua batendo, porque o ventilador fornece ar para os pulmões, mas, nesse caso, já não há nenhuma atividade cerebral.
Assim, a aparente vida, na verdade, é uma manutenção artificial do funcionamento de algumas estruturas físicas do corpo, mas não há nenhuma chance de retorno da função cerebral, que é o chamado estágio vegetativo.
É possível que o ente querido esteja em coma?
Infelizmente, não. O coma e a morte cerebral não podem ser confundidos, pois são bem diferentes. Quando um paciente é declarado em estado de coma, ele consegue respirar normalmente com a retirada do ventilador, ou seja, sua função nervosa e cerebral está preservada, o que não acontece quando é declarada a morte encefálica.
Para evitar que as pessoas cheguem despreparadas ao momento de decisão, que é tão importante, a conscientização sobre doação de órgãos é essencial. A ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) registrou um aumento de 15,7% em 2017 em relação ao ano anterior.
Apesar do aumento, o médico nefrologista e presidente da ABTO, Roberto Manfro, destaca que por mais que tenha se constatado um aumento significativo, o Brasil está como intermediário no ranking de doação. Esse número poderia ser mais satisfatório se houvesse mais informações para a população sobre a doação de órgãos no Brasil. Nas palavras do Dr. Roberto:
O grande problema é a falta de esclarecimento em relação às doações. Quando as pessoas são esclarecidas, elas entendem e se posicionam a favor. Por isso, tem que melhorar a quantidade de informações em todos meios: população, agentes de saúde e classe médica.
Quem pode ser um doador de órgãos?
Qualquer pessoa que declara desejo pela doação está apta a ser um doador de órgãos. No entanto, esse desejo precisará passar por uma confirmação de questões médicas e pelo consentimento familiar. Assim, a doação não é feita de forma automática.
Por isso, não tenha medo de declarar a sua intenção de doar órgãos em seus documentos. A declaração contida em documentos será apenas mais um elemento no processo de decisão, que precisará ser confirmada pelos seus familiares. É por isso que todos devem ser previamente orientados sobre o tema, sempre que houver oportunidade para conversar sobre o assunto.
Após o falecimento, caso o doador seja apto e a família concorde com a doação, o corpo da pessoa falecida é submetido a uma bateria de exames, que indicarão quais órgãos estão aptos para serem doados.
Só então é que o falecido se torna doador. Antes desse processo, trata-se de uma expressão preliminar de disposição em doar, ou seja, é uma possibilidade, ainda não confirmada. Com isso, é importante que você que tem este desejo converse com seus familiares sobre sua vontade.
Sempre que depararem com uma declaração anterior à morte, no sentido de que era desejo do falecido doar seus órgãos, é importante que a família honre essa vontade. Sem a colaboração da família, isso não será possível.
Pessoas que não forem identificadas ou que não possuam um familiar maior de 18 anos para autorizar a doação não podem ser doadoras. Como se vê, ao contrário do que poderia se imaginar, não é tão simples assim se tornar doador de órgãos.
Posso escolher para quem doar meus órgãos após a morte?
A doação de órgãos no Brasil não permite a escolha do receptor. O ato é mesmo solidário, para que todos tenham a mesma chance de conseguir receber um órgão a tempo.
Quando ocorre uma morte, os órgãos são destinados a pessoas que estão na fila de espera (existe uma fila única no Brasil). É feita uma longa avaliação de vários aspectos, como a gravidade do caso, o tempo de espera e a compatibilidade genética entre doador e receptor.
Como é realizado o transplante de órgãos?
Com a constatação da morte cerebral e a autorização por parte da família, é natural que ocorra uma conversa aberta entre a equipe médica e os familiares para que todas as dúvidas relativas ao tema sejam esclarecidas.
Os possíveis receptores dos órgãos passam por uma seleção para verificar se haverá compatibilidade dos órgãos. Essa seleção é avaliada pela CNCDO (Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos).
Se for identificado o possível receptor, os órgãos são retirados pela equipe de transplante. Depois que o procedimento de remoção dos órgãos é concluído, a equipe médica prepara o corpo do doador de orgãos para a realização do funeral. A reconstrução do corpo é feita com técnicas especiais, sendo obrigatória pela Lei nº 9.434/1997.
Cabe ressaltar que todo doador de órgãos é muito especial e tem o devido reconhecimento pela equipe responsável pelos procedimentos de transplante. O falecido é tratado com muito respeito durante todo o procedimento. O doador cumpre uma missão muito importante para a sociedade e isso é reconhecido por toda a equipe médica.
O corpo do doador é devolvido sem deformidades após a cirurgia. Não haverá nenhum prejuízo para as cerimônias fúnebres, que poderão ser realizadas pelos familiares e amigos do doador normalmente.
Quais órgãos podem ser doados quando há morte cerebral?
Quando a morte encefálica acontece, a maioria dos órgãos que não compõem o sistema nervoso está preservada. Assim, o doador poderá contribuir com:
- órgãos: coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas e intestino;
- tecidos: válvulas cardíacas, córneas, ossos e pele.
Quais são os órgãos doados em caso de parada cardíaca?
Como na morte por parada cardíaca a circulação é prejudicada, o doador poderá fornecer apenas tecidos, ou seja, não é possível fazer a doação de órgãos nesse caso. Assim, quando ocorre a morte por parada cardíaca, ainda será possível doar córneas, ossos e pele.
Quais órgãos não são doados?
Além das possibilidades de doação entre pessoas mortas de forma cardíaca e encefálica e o transplante entre vivos, o Brasil não permite que nenhum outro órgão seja doado. Assim, não existe previsão legal para doação de membros, como mãos, pênis, útero, entre outros. Conforme a ciência evolui, alguns outros itens são autorizados, mas a família pode consentir em cada caso e terá ciência de tudo que será transplantado.
Quantas pessoas podem ser auxiliadas por um mesmo doador?
Normalmente, um doador de órgãos ajuda mais de uma pessoa. O número pode variar de acordo com os órgãos e receptores compatíveis, mas pode atingir mais de quinze pessoas com facilidade.
Como se vê, é um gesto nobre e que ajuda muitas pessoas. Quanto mais saudável era a pessoa que faleceu, maior o número de órgãos e tecidos que poderão ser aproveitado por outras pessoas.
Isso não quer dizer, no entanto, que não seja possível doar órgãos com certos problemas de saúde. A avaliação da equipe médica considerará todas as particularidades do doador para definir quais são as melhores opções.
Quais são as pessoas que não podem ser doadoras de órgãos?
Não podem ser doadores de órgãos:
- pessoas que não foram devidamente identificadas por documento oficial;
- falecidos que não têm parentes com mais de 18 anos presentes para decidir;
- pessoas com doenças contagiosas em geral e com alguns tipos de câncer.
Como funciona a doação de órgãos em vida?
Quando falamos de doação entre pessoas vivas, entretanto, é possível escolher a quem será destinada essa doação. Nesse caso, há muito mais limitação quanto aos órgãos e tecidos que podem ser doados, pois é necessário preservar a vida das duas partes. Alguns órgãos permitem que essa doação seja feita. São eles:
- rim;
- parte do pâncreas;
- medula óssea, quando é compatível, feita por meio de aspiração óssea ou coleta de sangue;
- fígado, de forma parcial, em torno de 70%, pois ele se regenera;
- parte do pulmão, em situações excepcionais.
A doação entre vivos é sempre exceção, nunca a regra. Por isso, existem alguns parâmetros que devem ser observados para que essa doação seja realizada:
- o doador deve apresentar boas condições de saúde;
- doador e receptor devem ter algum vínculo forte ou grau de parentesco. Caso não haja parentesco, será preciso conseguir uma autorização judicial para o ato;
- é essencial ser maior de 18 anos e juridicamente capaz;
- a falta do órgão ou de parte dele não pode impedir o doador de ter uma vida com boa qualidade;
- o receptor deve ter um laudo médico atestando que a doação entre vivos é essencial para sua sobrevivência.
A doação de órgãos é um assunto cada vez mais comentado pelas pessoas, mas ainda falta muito para que seja possível atingir todo o potencial do procedimento. Ter receio com algo desconhecido é natural, por isso é tão importante conversar abertamente sobre como o processo funciona, quais as limitações do procedimento e as regras que devem ser seguidas.
Quando o assunto se torna mais familiar, todas as pessoas passam a entender a importância do ato e concordar com a contribuição. Informar-se e dividir a informação com outras pessoas é uma tarefa essencial para conseguir salvar mais vidas com a doação de órgãos no Brasil.
Além de órgãos, a doação de medula óssea é outro procedimento médico importante e que é capaz de salvar vidas.