Trata-se de um documento importante, em que uma pessoa define os cuidados que autoriza ou não receber. Pensar nesse assunto de maneira antecipada é uma forma de aproximar a
família e permitir a conversa sobre um tema tão importante.
É muito bom que seja possível dialogar com as pessoas próximas a respeito do que se espera para o próprio corpo, pois isso afeta também os outros. Lidar com esses assuntos com naturalidade ajuda a torná-lo menos difícil e a se cercar dos cuidados que pretende.
Para ajudar a entender melhor, preparamos um guia completo a respeito do testamento vital com respostas às principais dúvidas sobre esse procedimento. Confira nas próximas linhas.
O que é testamento vital?
A
diretiva antecipada de vontade (DAV) , que também recebe o nome de testamento vital, é um documento registrado em cartório. Ele confere maior autonomia no que se refere ao corpo de uma pessoa em relação a situações médicas invasivas.
Apesar do nome parecido, é diferente do testamento de bens, pois, no caso da DAV, são registrados os desejos de cuidados que uma pessoa quer ou não receber quando não puder mais expressar a sua vontade. Isso envolve tratamentos médicos e pode incluir procedimentos após o falecimento — ainda que este último dependa da escolha da família.
Assim, o documento precisa respeitar a legislação brasileira e ser feito dentro das normas para que tenha a sua validade garantida. Dessa forma, ele
ajuda na tomada de decisões importantes a respeito da vida de um paciente e guia a família para oferecer ao ente querido o que ele deseja, mesmo quando ele não puder se manifestar .
Algumas decisões importantes que podem ser abordadas na DAV são a respeito de uma pessoa ser submetida ou não a procedimentos como:
ventilação mecânica;
cirurgia;
uso de medicamentos;
reanimação após parada cardíaca.
Qual a importância do testamento vital?
É comum que as pessoas fujam de pensar sobre certas situações que podem acontecer na vida — adoecimento e acidentes, por exemplo. A própria morte, que é inevitável, é ainda um tabu em nossa sociedade. Porém, é importante refletir sobre temas delicados como esses e aprender a lidar com as decisões antes que uma situação se torne extrema.
Um
planejamento , apesar de nem sempre ser confortável, evita dores ainda maiores quando você e seus familiares mais precisam. Dessa maneira, pensar previamente e se resguardar em determinadas questões é também uma maneira de cuidar de quem você ama.
Dessa forma,
quando o testamento vital é feito com cautela e ponderação, além de contato com profissionais, ele traz orientações fundamentais aos médicos e à família . Nesse sentido, ajuda a refletir sobre questões essenciais em nossa vida, como a
superação do medo de morrer .
Você pode determinar, por exemplo, se autoriza medidas invasivas que tenham o objetivo de prolongar a sua vida ou se prefere, em casos graves em que não houver chance de recuperação, que sejam oferecidos os melhores cuidados, mas sem procedimentos agressivos inúteis.
Quando a opção é por não receber determinados tratamentos que não representam uma chance de cura, o paciente pode contar com os cuidados paliativos. Eles são um conjunto de procedimentos que oferecem atenção ao paciente e à família, para que eles recebam o conforto nesse momento delicado.
O testamento vital interfere na relação entre médico e paciente?
Esse documento é muito importante para a autonomia do paciente e contribui muito com as decisões médicas. Dessa maneira, ele
permite que o indivíduo receba um tratamento digno e com respeito à vontade dele, orienta a ação dos profissionais e também estimula uma atuação mais ética .
Portanto, não deve ser visto como uma interferência no trabalho de quem cuida da saúde, mas como uma contribuição para que a prática respeite os valores, as crenças e os desejos do paciente. Tudo isso deve ser observado com especial importância para o cumprimento da lei e da atenção adequada ao indivíduo durante todo o tempo em que ele precisar de atendimento.
O testamento vital interfere na relação com os familiares?
Além do contato com os médicos, pensar antecipadamente nessas questões é importante para a relação com os familiares. O planejamento e o diálogo devem fazer parte do contato com as pessoas próximas.
Assim,
conversar sobre os seus desejos, expectativas e o que gostaria para o cuidado com o próprio corpo é uma forma de se aproximar da família. É possível reforçar aquilo que se acredita, debater a respeito de temas importantes e conhecer mais sobre as pessoas próximas.
Da mesma forma, ajuda a trazer maior tranquilidade a quem se ama, pois guia as suas decisões em situações difíceis e traz a ciência de que ofereceram o melhor que podiam.
Quais as diferenças entre testamento vital e de bens?
O testamento mais conhecido é aquele que trata do destino dos bens de uma pessoa após o falecimento e tem a sua validade apenas quando isso acontece.
No caso do testamento vital, são determinadas as preferências de uma pessoa enquanto ela ainda estiver viva .
Os dois têm semelhanças. Em ambos os casos, é possível fazer alterações quando o responsável achar necessário. Esses documentos são considerados atos personalíssimos, que podem ser ajustados quando houver mudanças ou novas informações que sejam relevantes. Dessa forma, sempre que é feito um novo testamento, o anterior perde a sua validade.
A declaração referente aos bens e a DAV também têm diferenças judiciais . No primeiro caso, é preciso necessariamente seguir as orientações para dar entrada no
inventário e fazer a partilha. No caso do testamento vital, ainda existem algumas dificuldades que não garantem o seu cumprimento.
Quem pode fazer?
O testamento vital deve ser feito de forma livre e é preciso estar em plena capacidade civil e mental. Observadas essas condições, ele é permitido a qualquer pessoa. Nesse sentido, é interessante destacar que pessoas saudáveis ou doentes podem dar entrada no documento e que ele não é obrigatório, mas é um direito.
Apesar disso, ele ainda é pouco usado no Brasil e as pessoas buscam o recurso com mais frequência quando já estão doentes ou com
idade avançada . É válido reforçar a importância de considerar um planejamento como esse, afinal, nem sempre há tempo e condições suficientes para redigir o documento em casos de enfermidades.
A conversa com médicos e advogados não é obrigatória, mas é muito recomendada antes de fazer a declaração . Isso porque os profissionais podem sanar eventuais dúvidas sobre os procedimentos, quais as consequências das escolhas apresentadas e também se existe algum impedimento pela lei.
Nesse sentido, alguns procedimentos não são permitidos no Brasil, como a eutanásia. Portanto, caso o desejo seja declarado no testamento vital, ele é anulado. Dessa forma, o especialista tem a função de prestar orientações e esclarecimentos para que a declaração seja feita corretamente, contudo, não deve interferir na vontade livre do indivíduo.
Quais as regras para fazer o testamento vital?
Como vimos, a DAV pode ser feita por qualquer pessoa — psicologicamente apta e maior de idade —, quando desejar. Também observamos que
não é obrigatório, mas é sempre recomendado procurar um profissional para orientar a elaboração do documento .
Enquanto alguns países já trazem regras mais objetivas e modelos para que as pessoas redijam a sua declaração, o Brasil não tem uma tradição de uso do testamento vital, o que faz com que ele ainda seja bastante desconhecido por aqui. Entenda melhor as suas regras.
Como fazer o testamento vital?
O processo de realização da DAV é simples e ele pode ser lavrado em um tabelionato de notas. Assim, é preciso elencar os tratamentos desejados ou recusados nos casos de enfermidade.
É importante destacar que alguns procedimentos não podem ser abdicados — é o caso dos cuidados paliativos. Algumas opções como a
doação de órgãos e a preferência por
sepultamento ou cremação cabem à família. Nessas situações, o paciente pode indicar o seu desejo, mas a decisão final é dos responsáveis.
Como não existe um padrão determinado, ele não precisa ser registrado por escrito. Pode ser feito por um acordo verbal com o médico, de preferência com a presença de um profissional do direito.
Apesar disso, a sua oficialização por escritura pública é importante para aumentar a segurança a respeito do cumprimento. Ele pode, inclusive, ser inserido no prontuário médico para que seja consultado quando houver a necessidade.
Quando é permitido que o médico desligue os aparelhos que mantêm um paciente vivo?
Os casos em que é possível interromper o tratamento a partir do testamento vital são aqueles em que se diagnostica o estado vegetativo permanente, pois nessas situações os danos sofridos não deixam mais chances para recuperação. Esse procedimento é chamado de
ortotanásia, em que a morte acontece naturalmente, sem indução .
É importante que seja preservada a ética médica e a dignidade do paciente, portanto, os cuidados para garantir uma atenção adequada são fundamentais, independentemente das condições de saúde.
O que é mandato duradouro?
Para se certificar de que os desejos manifestados no testamento vital serão cumpridos, é importante conhecer também o
mandato duradouro . Trata-se da nomeação de uma pessoa que ficará responsável pelo documento, quando o autor não puder responder.
É esse procurador que fará valer a vontade do paciente e será consultado quando os médicos precisarem tomar alguma decisão importante prevista nessa declaração. Dessa forma, o responsável não tem a liberdade de interferir no que for escolhido pelo autor, ainda que não concorde com seu conteúdo.
Geralmente, a pessoa identificada nesse documento é o familiar mais próximo, que também assume as providências após a morte, como a emissão do
atestado de óbito , o funeral, entre outras.
Além disso,
é recomendado que esse procurador não seja um herdeiro ou beneficiário da pensão por morte do INSS . É uma maneira de garantir que a decisão seja neutra e tenha como base apenas o desejo do autor. Porém, é apenas uma recomendação e não uma regra.
Por quanto tempo vale o testamento vital?
O documento não tem um prazo estipulado para vencimento.
Uma pessoa pode fazer em qualquer momento da vida e ele continuará tendo validade mesmo com o passar dos anos . Por outro lado, o testamento vital perde seu efeito se contar com desejos que estejam contrários à lei ou se ele for revogado pelo autor.
Quanto custa para fazer um testamento vital?
A elaboração do documento não tem
custos . Porém, para registrá-lo em cartório é preciso se responsabilizar pelos gastos, que variam de acordo com o estabelecimento. Além disso, caso um advogado seja consultado para garantir o enquadramento legal das preferências manifestadas, será necessário assumir os honorários dele.
É válido perante a lei?
A lei brasileira não conta com determinações específicas a respeito do testamento vital. Contudo, ela também não impede que seja realizado. Da mesma maneira, existem algumas menções que trazem apoio constitucional ao procedimento.
Ele é citado, por exemplo, pela Resolução n.º 1955 do Conselho Federal de Medicina (CFM) .
A resolução orienta a ação dos médicos e ainda destaca a necessidade e a inexistência de uma regulamentação federal a respeito do tema, como forma de garantir a autonomia do paciente.
Assim, a falta de leis específicas e de modelos nacionais dificulta a sua realização. Da mesma maneira, pode trazer ainda uma insegurança em relação ao seu cumprimento. Ter esse respaldo na constituição solucionaria muitos dos conflitos a respeito do testamento vital e, talvez, estimulasse que fosse mais adotado em nosso país.
Portanto, o testamento vital é um documento importante e que tem muitos benefícios.
É fundamental que ele seja conhecido pela população brasileira, para que proporcione mais autonomia e dignidade no cuidado com a saúde . Pensar sobre a própria finitude é um exercício importante e pode garantir mais tranquilidade em momentos difíceis.
Ajude a tornar o testamento vital mais conhecido em nosso país, compartilhando este guia em suas redes sociais. Isso pode beneficiar muitas pessoas!
Artigos Relacionados